INFARTO DO MIOCÁRDIO | Causas e prevenção
Você deve saber o que é um infarto, mas provavelmente não sabe por que ele ocorre. Neste texto vamos explicar como surgem as obstruções das artérias coronárias e quais as opções de tratamento para o infarto e para a angina de peito.
Vamos começar com alguns conceitos básicos
Entendendo o que são artérias coronárias, miocárdio, isquemia e infarto
As artérias que levam sangue para nutrir o miocárdio (músculos do coração) são chamadas de artérias coronárias. Nosso coração é vascularizado por duas artérias coronárias, artéria coronária esquerda e artéria coronária direita, que se ramificam inúmeras vezes de modo a cobrir todo o músculo cardíaco.
Artérias coronárias |
Infarto significa morte (necrose) de um tecido por falta de suprimento sanguíneo. Muita gente associa imediatamente a palavra infarto ao infarto do miocárdio, mas o infarto pode ocorrer em qualquer tecido ou órgão do corpo que sofra uma interrupção de seu aporte sanguíneo, como infarto cerebral, infarto pulmonar ou infarto intestinal, por exemplo.
O infarto do miocárdio, que é a necrose de uma parte do músculo cardíaco, ocorre quando uma das artérias coronárias ou suas ramificações sofrem uma obstrução, fazendo com que o aporte de sangue para uma determinada região do coração torne-se insuficiente.
Antes de seguirmos em frente com o texto é preciso entender mais um conceito, a diferença entre infarto e isquemia. Isquemia é o é um estado pré-infarto, quando um tecido está recebendo menos sangue que o necessário, mas ele ainda não necrosou. Quando há uma isquemia, o tecido que está sofrendo irá morrer se o fluxo de sangue não for rapidamente restabelecido. Um tecido isquêmico é um tecido em sofrimento, sob iminente risco de necrosar, enquanto que um tecido infartado é um tecido morto, sem chances de recuperação.
Bom, entendidos estes conceitos, vamos então explicar por que uma artéria coronária pode ficar obstruída causando isquemia ou infarto do miocárdio.
Como ocorre o infarto do miocárdio?
Todo mundo já ouviu falar que o colesterol alto é um fator de risco para o infarto do miocárdio (leia: COLESTEROL BOM | COLESTEROL RUIM | TRIGLICERÍDEOS), o que é verdade, pois o excesso de colesterol no sangue faz com que placas de gordura se depositem nos vasos sanguíneos em um processo chamado de aterosclerose.
As placas de gordura ocupam espaço dentro do vaso, fazendo que o fluxo sanguíneo fique reduzido. Esse acúmulo de gordura nos vasos é assintomático até fases bem avançadas. Os sintomas só começam a surgir quando mais de 70-80% de uma artéria encontra-se obstruída. Esta ausência de sintomas até fases tardias ocorre por dois motivos: 1- quando estamos em repouso o coração não necessita de um fluxo muito elevado de sangue, 2- quando necessário, as artérias conseguem dilatar aumentando temporariamente o fluxo sanguíneo que passa por elas.
Porém, quando a obstrução começa a ficar muito grande, a artéria já não consegue se adaptar e a quantidade de sangue que chega ao músculo cardíaco passa a ser suficiente apenas quando o paciente está em repouso, tornado-se insuficiente quando o coração precisa acelerar. Neste momento surge a angina de peito, que é a dor causada a pela isquemia do músculo cardíaco. Tipicamente a angina é uma dor no peito que surge durante um esforço físico ou estresse emocional, momentos em que o músculo cardíaco exige um maior aporte de sangue e entra em isquemia devido a incapacidade da artéria parcialmente obstruída em fornecer este fluxo extra. Outra característica da angina é a sua melhora após alguns minutos de repouso, quando o coração desacelera, passa a demandar menos sangue e a isquemia desaparece. Para saber mais sobre os sintomas da angina e do infarto, sugerimos a leitura de INFARTO DO MIOCÁRDIO E ANGINA| Sintomas.
O infarto surge quando a obstrução da artéria coronária é completa, fazendo com que o aporte de sangue para o músculo seja nulo, ou tão baixo que o mesmo não consiga ser suficiente nem para o funcionamento mínimo do coração. Ao contrário do que vocês possam estar pensando, o infarto não ocorre, normalmente, por um crescimento progressivo das placas de gordura que vão lentamente fechando a artéria. Isto até pode ocorrer em alguns casos, mas o infarto é, na maioria das vezes, um evento súbito que ocorre após uma rápida obstrução da artéria coronária por um coágulo. Explico.
Reparem na imagem ao lado. Normalmente as placas de gordura ficam bem aderidas à parede dos vasos, crescendo lentamente ao longo do tempo. Eventualmente, porém, essas placas podem sofrer uma lesão pela passagem constante do sangue, fazendo com que surja uma pequena rachadura. Este é o momento crítico do infarto; o organismo interpreta essa rachadura na placa de colesterol como se fosse uma rachadura na parede do vaso. O resultado desta má interpretação é a ativação dos fatores de coagulação que se dirigem para o local da lesão com o objetivo de formar um coágulo e impedir que a suposta lesão na parede do vaso rompa e cause um sangramento. O que temos, então, é uma artéria coronária que já tinha cerca de 70% da sua luz obstruída pela placa de gordura, e agora, subitamente, "ganha" um coagulo, que acaba por obstruir em minutos os 30% de espaço que ainda permitiam a passagem do sangue.
A gravidade do infarto depende da artéria que encontra-se obstruída, e principalmente do tamanho da área de músculo cardíaco necrosado. O infarto fulminante é aquele que acomete uma porção tão grande do coração que o mesmo torna-se insuficiente para bombear o sangue para o resto do corpo. Outra possibilidade é um infarto que cause instabilidade da atividade elétrica cardíaca, causando arritmias cardíacas graves (leia: INFARTO FULMINANTE | Causas e sintomas).
Prevenção do infarto
Sabendo-se que o infarto é causado pelo acúmulo de gordura nas artérias e pela formação de um coagulo em cima desta placa, podemos lançar mão de algumas ações na tentativa de prevenir a doença isquêmica cardíaca.
Vamos falar um pouco de como se pode tentar reduzir a aterosclerose e o risco de lesão nas placas de gordura dos vasos.
- Parar de fumar (leia: MALEFÍCIOS DO CIGARRO | Tratamento do tabagismo): fumantes apresentam uma aterosclerose até 50% maior que não fumantes, fazendo com que o colesterol não só adira mais facilmente à parede das artérias, como também cresça mais rapidamente. O cigarro também causa uma inflamação dos vasos, facilitando a rotura das placas e a formação de coágulos. Por último, a nicotina tem um efeito vasoconstrictor, impedindo que as artérias se dilatem quando necessário para aumentar o fluxo de sangue.
- Controlar a pressão arterial (leia: HIPERTENSÃO ARTERIAL ( PRESSÃO ALTA) | Sintomas e tratamento): o ideal é procurar manter a pressão arterial abaixo de 130/80 mmHg com emagrecimento, controle do sal na dieta e uso de medicamentos se necessário
- Controlar o colesterol (leia: COLESTEROL BOM | COLESTEROL RUIM | TRIGLICERÍDEOS): níveis de HDL (colesterol bom) baixo e/ou LDL (colesterol ruim) elevado estão associados a um maior risco de doença coronariana. Dieta e controle do peso ajudam, mas muitas vezes é necessário recorrer a medicamentos para se conseguir reduzir satisfatoriamente o colesterol. A estatinas, principal grupo de drogas para o controle da dislipidemia, também parece aumentar a estabilidade da placa gordurosa, reduzindo o risco de lesões da mesma.
- Dieta controlada: indica-se uma dieta pobre em gorduras saturadas e rica em fibras, vegetais e frutas. Dê preferência à carne de peixe.
- Atividade física regular: 30 minutos de caminhada diariamente é suficiente para reduzir o risco de doença coronariana.
- Controle do diabetes (leia: DIABETES MELLITUS | DIAGNÓSTICO E SINTOMAS): o diabetes é um dos principais fatores de risco para doença cardiovascular. Um bom controle dos níveis de glicose no sangue está associado a uma grande redução na taxa de mortalidade.
- Evitar a obesidade (leia: OBESIDADE E SÍNDROME METABÓLICA | Definições e consequências): Pessoas obesas (IMC maior que 30 kg/m2) têm 2x mais chances de desenvolver doenças cardiovasculares que a população sem excesso de peso. A obesidade também aumenta o risco de hipertensão, dislipidemia (colesterol alto) e diabetes, todos fatores de risco para doença coronária, como expostos acima.
A aspirina (ácido acetilsalicílico) é uma droga que em doses baixas é capaz de inibir a ação das plaquetas, as células do sangue que iniciam o processo de coagulação. Deste modo, diminui-se a formação de coágulos quando um placa gordura sofre lesão. A aspirina reduz o risco de infarto em pacientes que possuem alguns fatores de riscos. Toda vez que o cardiologista, através da avaliação clínica, encontrar dados que sugiram que o paciente apresenta um risco maior do que 10% de chance de infarto nos próximos10 anos, a prescrição da aspirina está indicada. A dose sugerida é entre 75 e 325 mg/dia