Elas são doces, levemente gaseificadas, têm sabor de fruta e prometem energia e disposição. A combinação parece perfeita para quem deseja uma dose extra de ânimo naqueles dias em que o corpo está exausto, mas a noite promete ser longa e agitada. Os energéticos são a bebida das baladas. Não contêm álcool – mas ele é encontrado, em altas doses, no corpo de mais da metade de seus usuários. Um hábito está associado ao outro. É por isso, entre outras razões, que os energéticos estão na mira das autoridades de saúde. Até que ponto eles podem agredir ou ajudar seu corpo?
Um dos mais abrangentes estudos feitos com essas bebidas será publicado em fevereiro na revista científica americanaAlcoholism: Clinical & Experimental Research. Pesquisadores de três universidades americanas acompanharam a rotina de mais de 1.000 estudantes universitários. A primeira conclusão é que os jovens que misturam energéticos com álcool relatam se sentir menos bêbados do que de fato estão. O sujeito perde a coordenação motora, fica com os reflexos lentos e tem dificuldade para organizar as ideias, mas acha que está 100%. "Ele acha que está apto para tudo, mas seu estado pode ser descrito como embriaguez desperta", diz Amelia Arria, da Universidade de Maryland, uma das autoras da pesquisa.
A segunda conclusão é uma consequência da primeira. Por mascararem os efeitos de sonolência causados pelo álcool, os energéticos impulsionam o consumo exagerado de bebida. "A pessoa acha que está melhor do que realmente está, por isso bebe ainda mais", diz Amelia. O estudo também revela o que boa parte das pessoas já sabia: os jovens que consomem energéticos em maior quantidade (52 vezes ou mais por ano) são também os que se embriagam mais cedo e com maior frequência.
Energéticos são bebidas que contêm estimulantes cerebrais, como cafeína e taurina, que agem no sistema nervoso, aumentando o estado de atenção do indivíduo. Essas substâncias também estão presentes no café, no chocolate e no refrigerante. Em doses moderadas (uma latinha, que contém 79 miligramas de cafeína, equivale a pouco mais de uma xícara de café) e sem a mistura com álcool, são substâncias que não apresentam riscos à saúde, dizem os especialistas. "Já para diabéticos, idosos e pessoas sensíveis á cafeína, os energéticos podem apresentar risco cardiovascular" diz Sionaldo Eduardo Ferreira, pesquisador da área de Educação Física e Psicobiologia, com ênfase em comportamentos abusivos, da Unifesp.
Mas, da forma como são consumidas, os jovens ultrapassam facilmente o limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde, de 200 miligramas. Isso equivale a duas latas e meia. O ator e modelo paranaense Junior Mariano, de 23 anos, diz já ter consumido cinco latinhas de energéticos em uma noite. "Eu misturo com vodca para suavizar o gosto do álcool", diz. "Fica mais gostoso." Ele conta que quando exagera na dose sente o coração acelerado e tem dificuldade para dormir. Algumas marcas tentam associar o efeito da bebida ao de algumas drogas. O fabricante de um energético chamado "cocaine" (cocaína, em inglês) foi obrigado a mudar o nome de seu produto e suspender o vídeo de divulgação do produto. Nele, um jovem aparece cheirando a latinha antes de colocá-la na boca. "Eles tentam passar a ideia do efeito da droga e isso é muito perigoso", diz o pesquisador Bruno Gualano, da Escola de Educação Física e esporte da USP, que estuda a influência da nutrição no desempenho motor.
O que diz a Red Bull
"O Red Bull Energy Drink está disponível em mais de 160 países porque as autoridades de saúde em todo o mundo concluíram que o produto é seguro para consumo. Cerca de 30 bilhões de latas foram consumidas desde que foi criado, há 24 anos . O consumo bebidas energéticas combinada com bebidas alcoólicas não é recomendado, conforme indicado na lata do produto". |
O primeiro energético a chegar às prateleiras foi o Red Bull, lançado na Alemanha em meados de 1987. No Brasil, a marca desembarcou nos anos 90 e hoje é líder, com 40% do mercado. O Red Bull Energy Drink, disponível em mais de 160 países, afirma em nota oficial que a combinação de álcool e energético não é recomendada, conforme indica o rótulo de seus produtos. Consomem-se no Brasil cerca de 87,5 milhões de litros de energéticos por ano. É pouco menos que o consumo de isotônicos, bebidas usadas para reposição de sais minerais nas atividades esportivas. Algumas pessoas confundem isotônicos e energéticos, mas eles são totalmente diferentes. Um hidrata o corpo, o outro estimula o cérebro.
No Canadá e nos Estados Unidos, os dois países que mais consomem energéticos do mundo, a vigilância sobre o produto é intensa. Os estudos revelam que os acidentes de trânsito mais graves têm a "bebida da balada" associada ao álcool. "Chegamos a um ponto em que as pessoas começam a tomar em jejum, em vez do café da manhã", afirma Albert Schumacher, da Associação Médica Canadense.
Um estudo que será divulgado na próxima semana pela ProTeste, a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, revela que os energéticos também têm problemas nos rótulos. Marcas como Atomic, Monster, Night Power e Red Hot são mais açucaradas do que dizem ser.