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8 de dez. de 2010

Pelas cores dos olhos teus [Você que é biólogo...]

Pelas cores dos olhos teus [Você que é biólogo...]: "
('For the colors in her eyes' - See the comment section for an English version of this post)



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Não me canso de aprender coisas. Pelos mais diversos motivos.



Um detalhe dos belos olhos dessa bela moça me chamou a atenção: a íris do olho direito tem uma área de uma cor diferente. Enquanto os olhos são 'medovača' (cor de mel em Sérvio), o quadrante direito superior é cinza.


Fiquei curioso e cheguei mais perto. Pra ver melhor.


Eu já tinha visto pessoas com olhos cada um de uma cor, mas apenas um parte? Nunca tinha visto. Primeiro fiquei interessado porque ela era linda, mas depois pensei que poderia ser um exemplo pouco documentado de aneuploidia ou de imprinting parental, que eu poderia usar nas minhas aulas de 'relações gene ambiente'.


Fiz uma breve pesquisa e... não descobri nada! O Google aparentemente não sabe nada sobre 'olhos de cores diferentes'. Tive que fazer uma investigação de verdade.


A região dos olhos que dá a cor a eles é a íris, já que a córnea é transparente, a pupila é preta (justamente porque os pigmentos da retina absorvem toda luz) e a esclera toda branca. A cor é dada principalmente pelo acúmulo de melanina, a mesma proteína que dá a cor a pele e aos cabelos, numa versão um pouquinho diferente apenas. Mas como a melanina só varia do preto ao marrom, o que dá a cor azul, verde, cinza e todas as variações entre elas? Bom, além da melanina, que está empacotada em compartimentos chamados melanossomos que modificam a cor dependendo da camada da íris em que se encontram, outros pigmentos gordurosos contribuem para as diferentes cores.


Aprendi que um olho de cada cor, ou heterocromia total, não é só uma condição rara, mas também é anormal. Quer dizer, na maior parte das poucas vezes que aparece, resultado de uma doença hereditária, como a 'síndrome de Waardenburg', que é causada por uma disfunção da pigmentação vejam só, do ouvido, mas que também levam a despigmentação aos cabelos, pelos e olhos.


A cor dos olhos é muito mais complexa do que ensinam os nossos professores de biologia do ensino fundamental e médio, com aquela história de Aa (azão, azinho). Esses que seriam os alelos do gene EYCL3 (do inglês 'eye color' - cor dos olhos), localizado no cromossomo 15, que determinaria a quantidade de melanina na íris e consequentemente se o olho seria castanho ou azul. Mas além da quantidade de melanina, ainda há a posição dos melanossomas e a quantidade de outros pigmentos. Pelo menos outros dois genes, também localizados no cromossomo 15, estariam envolvidos: EYCL1 e EYCL2.

(há um tempo queria escrever sobre o que determina realmente a cor dos olhos, mas ainda não tive tempo para decifrar o artigo na Nature)


Também aprendi que olhos cinzas são típicos dos Balcãs, que também é uma importante região produtora de mel, ainda que isso não tenha muita importância para responder a pergunta.


Aprendi ainda que existe uma pseudociência chamada iridiologia com enormes pretensões de precisão científica, mas que como as outras pseudociências, não sobreviveria a um exame mais criterioso (leia-se um estudo duplo cego). De acordo com esse mapa que eu encontrei (veja foto abaixo), a mancha no olho dela significa problemas no pescoço e pulmões, podendo envolver, respectivamente, os ombros e os seios. Mas olha como cada círculo quer dizer uma coisa e cada região quer dizer outra. É igual acreditar que Deus controla, ou mesmo monitora, todas as coisas que acontecem no seu dia-a-dia: é impossível que seja verdade.


Iridologia_right.jpg


Quanto a chance de usar os olhos dela como exemplo nas minhas aulas de evolução ou biofísica, eu não podia estar mais enganado. Não há nenhuma evidência de que aneuploidia ou imprinting parental (que eu acabei estudando muito para escrever esse texto. Tanto que ficou muito grande e vou colocar o que aprendi em outro) estejam envolvidos no fenômeno.


Finalmente, aprendi que o caso dela é chamado de heterocromia setorial e, se não foi causado por um trauma (como uma pancada forte) ou uma infecção da íris, é um caso muito raro em humanos.


Podemos dizer que ela é uma raridade.
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Anemia Falciforme - A Revanche [Ecce Medicus]

Anemia Falciforme - A Revanche [Ecce Medicus]: "
ResearchBlogging.orgVamos retomar o tema sobre a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo de enviar a júri popular os pais da menina que não permitiram uma transfusão de sangue que poderia ter salvo a vida dela por questões religiosas. As Testemunhas de Jeová (TJ) são uma seita cristã fundamentalista, baseada em Nova York, cujos seguidores acreditam que a Bíblia é a verdadeira palavra de Deus. Há cerca de 5.500.000 membros batizados, 125.000 dos quais residem no Reino Unido. Para muitas pessoas, as TJ são conhecidas por sua recusa absoluta de produtos derivados de sangue, mesmo quando isso pode resultar em sua própria morte ou de seus entes queridos. Esta recusa é baseada em três passagens bíblicas que supostamente proíbem a transfusão: Gênesis 9:4, Levítico 17:11-14 e Atos 15:20,29. São as mesmas passagens utilizadas para justificar alguns procedimentos da comida Kosher judaica. (Veja aqui maiores informações sobre a teologia dos membros dessa seita religiosa, em inglês, e uma boa crítica teológica). A punição para quem aceita hemoderivados é a perda da vida eterna e, na Terra, um tipo de excomunhão. Punições, temos que convir, severíssimas para quem faz parte da comunidade e tem a vida eterna como objetivo pós-morte.

A discussão aqui se limita ao fato de que a criança, na época com 13 anos de idade, não tinha como se posicionar a respeito desse problema, assim como de outros relativos à sua idade, sendo os pais, os responsáveis por decidir por ela. Entretanto, dado que a decisão dizia respeito diretamente a sua vida e tendo ela direito de viver, poderia o Estado ir contra uma decisão 'parental' que atentasse contra a existência da menina. As TJ sempre invocam legislações de direitos humanos para justificar a recusa dos pais em transfundir hemoderivados a crianças. Essa história é bem antiga. Uma longa lista de eventos na luta por direitos humanos começou com a Declaração Universal dos Direitos Humanos proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948 e teve, como capítulo importante para a medicina, a Convenção para a Proteção dos Direitos do Homem e da Dignidade do Ser Humano face às Aplicações da Biologia e da Medicina, conhecida como Consenso de Oviedo, em especial para Europa[1]. Houve, nesse caso, também a interferência de um médico que, partidário da seita, segundo consta nos autos, pressionou a equipe médica que a assistia e que, por essa razão, está sendo processado também. 'Cortes por todo o mundo ocidental reconhecem os direitos dos pais, mas esses direitos não são absolutos. Os direitos dos pais em criar suas crianças são identificados como o dever de assegurar sua saúde, segurança e bem-estar. Os pais não podem tomar decisões que possam permanentemente colocar em risco ou comprometer sua saúde. Se essa recusa resultar em sofrimento da criança, os pais podem ser incriminados. Entretanto, os processos raramente ocorrem.' A crença é livre. Agir, ou deixar de agir, tendo como único guia uma crença não reconhecida como corpo de conhecimento técnico utilizável na prática médica, não.

O estudo abaixo [2] verificou a legislação de países com língua inglesa quanto a recusa da transfusão de hemoderivados à criança pelos pais legais. Nos EUA, temos as seguintes conclusões:

1. Os interesses da criança e do Estado superam o de uma recusa de tratamento médico pelos pais.
2. Os direitos dos pais não asseguram direitos sobre a vida e a morte de suas crianças.
3. Os pais não têm direitos absolutos sobre a recusa de tratamento médico sobre suas crianças baseados em suas crenças religiosas.

No Reino Unido, a legislação para esse tipo de problema, como quase tudo lá, foi estabelecida no ano de 1875 e permanece inalterada: pais que falham em obter tratamento médico adequado para suas crianças estão sujeitos às penas da lei, mesmo se essa falha está baseada em religião. Na Austrália, a prerrogativa é do médico e nenhuma interferência deve ser aceita quando se tratar de uma criança.

No Brasil, um parecer do Conselho Federal de Medicina de 1980 estabelece que: Em caso de haver recusa em permitir a transfusão de sangue, o médico, obedecendo a seu Código de Ética Médica, deverá observar a seguinte conduta: 1º - Se não houver iminente perigo de vida, o médico respeitará a vontade do paciente ou de seus responsáveis. 2º - Se houver iminente perigo de vida, o médico praticará a transfusão de sangue, independentemente de consentimento do paciente ou de seus responsáveis.

Nesse caso específico, eu achei correto o encaminhamento dos pais a júri popular. Que a sociedade julgue esse tipo de decisão. Me pareceu especialmente perfeita a colocação do juiz do caso Prince vs Massachusetts, EUA,1944 [3]

'Pais estão livres para tornar-se mártires. Mas isso não significa que eles podem, em circunstâncias idênticas, tornar mártires suas próprias crianças'.

[1] Sr. Avelino Retamales, Dr. Gonzalo Cardemil. Rev Méd Chile 2009; 137: 1388-1394.
[2] Woolley, S. (2005). Children of Jehovah's Witnesses and adolescent Jehovah's Witnesses: what are their rights? Archives of Disease in Childhood, 90 (7), 715-719 DOI: 10.1136/adc.2004.067843
[3] Prince v Massachusetts (1944) 321 US 158.


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Paediatric Neurosurgery for Nurses

Neuropediatria para Enfermeiros : "
Neuropediatria para Enfermeiros: cuidado baseado em evidência para as crianças e suas famílias. 2008. 272p.
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Aqui Leia ou escreva algo:
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ABC of Breast Diseases

ABC of Breast Diseases: "
ABC of Breast Diseases. 2006. 129p.
Tamanho do arquivo: 2,8Mb
Baixe aqui:
http://uploading.com/files/UQ0YKDSY/1414_ABCBr.rar.html

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laqueadura ou DIU :qual melhor alternativa


Um novo método é alternativa à laqueadura cirúrgica e pode ser feito dentro de um consultório médico, em apenas cinco minutos e sem nenhum tipo de anestesia.



Ele se baseia na introdução de um dispositivo feito de aço e fibras de poliéster nas trompas. O método é irreversível, ou seja, se a paciente se arrepender e quiser engravidar novamente, terá de fazer uma fertilização in vitro.
Como não libera hormônios, o dispositivo também é indicado para quem não pode usar contracepcionais hormonais. A ginecologista Daniela de Batista explica como o equipamento funciona. 
Assista ao vídeo:

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