Mediunidade ou esquizofrenia? Em tempos de transtornos mentais na moda um estudo do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora investiga diferenças entre a experiência espiritual e o transtorno mental
Belo Horizonte — Ter visões, escutar vozes e sentir a presença de seres não visíveis são consideradas manifestações de mediunidade (capacidade humana que permite a comunicação entre humanos e espíritos), mas também podem ser interpretadas como sintomas de esquizofrenia (doença mental caracterizada por alucinações). Diferenciar uma coisa da outra é o objetivo de um estudo desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (Nupes) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
“Infelizmente, muitas vezes pessoas portadoras de transtornos mentais abandonam seus tratamentos médicos pensando ter apenas experiências espirituais, o que é um erro que deve ser evitado, pois podem haver graves consequências para os pacientes”, observa o orientador da pesquisa e diretor do Nupes, Alexander Moreira-Almeida. Denominada Um estudo prospectivo para o diagnóstico diferencial entre experiências mediúnicas e transtornos mentais, a investigação teve início em abril do ano passado e está na fase de coleta de dados, com conclusão prevista para o fim de 2011.
O trabalho faz parte da tese de doutorado em saúde brasileira do também professor da UFJF Adair Menezes Júnior. “A pesquisa investiga a mediunidade em um contexto espírita, não pretendendo fazer comparações com vivências semelhantes que ocorrem em outros grupos religiosos”, delimita.
A metodologia prevê a avaliação de 100 pessoas que, ao buscar ajuda em centros espíritas, são identificadas como médiuns pelos atendentes. Os indivíduos são submetidos a entrevistas que avaliam diversos aspectos psicológicos e psiquiátricos. Depois de um ano, as mesmas pessoas são entrevistadas novamente para avaliar como foi a evolução de suas vivências e das variáveis psicológicas e psiquiátricas investigadas.
“A mediunidade está presente ao longo da história em praticamente todas as civilizações, com registros de fazer parte da base de grande parte das religiões. Sendo assim, é uma experiência humana que precisa ser melhor investigada”, justifica Alexander Almeida.
Critérios
Com base em pesquisas anteriores com médiuns e em uma ampla revisão da literatura, os pesquisadores identificaram nove critérios que podem ser úteis na diferenciação entre uma experiência espiritual saudável e um transtorno mental.
São eles: ausência de sofrimento psicológico, ausência de prejuízos sociais e ocupacionais, duração curta da experiência, atitude crítica (ter dúvidas sobre a realidade objetiva da vivência), compatibilidade com o grupo cultural ou religioso do paciente, ausência de comorbidades (coexistência de doenças ou transtornos), controle sobre a experiência, crescimento pessoal ao longo do tempo e uma atitude de ajuda aos outros.
A pesquisa do Nupes é uma continuidade de outro trabalho do professor Alexander. Em 2001, ele verificou a saúde mental de 115 médiuns espíritas de nove centros espíritas selecionados aleatoriamente na cidade de São Paulo.
Eles foram entrevistados com base em questionários psiquiátricos padronizados, desenvolvidos pela Organização Mundial de Saúde. O estudo concluiu que os médiuns apresentaram baixa prevalência de problemas psiquiátricos e bom ajustamento social, com alta escolaridade e baixo desemprego.
Além disso, o trabalho evidenciou que a maioria dos médiuns teve o início de suas manifestações mediúnicas na infância e estas, na fase adulta, se caracterizam por vivências de influência ou alucinatórias que não necessariamente implicam diagnóstico de esquizofrenia. Outra conclusão importante da pesquisa é que a mediunidade se constitui numa vivência diferente do transtorno de personalidade múltipla.
“O objetivo desse estudo é determinar se a psicografia está associada a alterações específicas na atividade cerebral e buscar compreender melhor a experiência mediúnica, identificando o padrão de ativação das diversas áreas cerebrais durante a psicografia”, explica Alexander. Foram avaliados 10 médiuns sem transtornos mentais e com experiência em psicografia. Eles foram submetidos a uma tomografia. Os resultados da pesquisa serão publicados nos próximos meses.
adaptado de : http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-saude/2010/06/21/interna_ciencia_saude,198624/index.shtml
“Infelizmente, muitas vezes pessoas portadoras de transtornos mentais abandonam seus tratamentos médicos pensando ter apenas experiências espirituais, o que é um erro que deve ser evitado, pois podem haver graves consequências para os pacientes”, observa o orientador da pesquisa e diretor do Nupes, Alexander Moreira-Almeida. Denominada Um estudo prospectivo para o diagnóstico diferencial entre experiências mediúnicas e transtornos mentais, a investigação teve início em abril do ano passado e está na fase de coleta de dados, com conclusão prevista para o fim de 2011.
O trabalho faz parte da tese de doutorado em saúde brasileira do também professor da UFJF Adair Menezes Júnior. “A pesquisa investiga a mediunidade em um contexto espírita, não pretendendo fazer comparações com vivências semelhantes que ocorrem em outros grupos religiosos”, delimita.
A metodologia prevê a avaliação de 100 pessoas que, ao buscar ajuda em centros espíritas, são identificadas como médiuns pelos atendentes. Os indivíduos são submetidos a entrevistas que avaliam diversos aspectos psicológicos e psiquiátricos. Depois de um ano, as mesmas pessoas são entrevistadas novamente para avaliar como foi a evolução de suas vivências e das variáveis psicológicas e psiquiátricas investigadas.
“A mediunidade está presente ao longo da história em praticamente todas as civilizações, com registros de fazer parte da base de grande parte das religiões. Sendo assim, é uma experiência humana que precisa ser melhor investigada”, justifica Alexander Almeida.
Critérios
Com base em pesquisas anteriores com médiuns e em uma ampla revisão da literatura, os pesquisadores identificaram nove critérios que podem ser úteis na diferenciação entre uma experiência espiritual saudável e um transtorno mental.
São eles: ausência de sofrimento psicológico, ausência de prejuízos sociais e ocupacionais, duração curta da experiência, atitude crítica (ter dúvidas sobre a realidade objetiva da vivência), compatibilidade com o grupo cultural ou religioso do paciente, ausência de comorbidades (coexistência de doenças ou transtornos), controle sobre a experiência, crescimento pessoal ao longo do tempo e uma atitude de ajuda aos outros.
A pesquisa do Nupes é uma continuidade de outro trabalho do professor Alexander. Em 2001, ele verificou a saúde mental de 115 médiuns espíritas de nove centros espíritas selecionados aleatoriamente na cidade de São Paulo.
Eles foram entrevistados com base em questionários psiquiátricos padronizados, desenvolvidos pela Organização Mundial de Saúde. O estudo concluiu que os médiuns apresentaram baixa prevalência de problemas psiquiátricos e bom ajustamento social, com alta escolaridade e baixo desemprego.
Além disso, o trabalho evidenciou que a maioria dos médiuns teve o início de suas manifestações mediúnicas na infância e estas, na fase adulta, se caracterizam por vivências de influência ou alucinatórias que não necessariamente implicam diagnóstico de esquizofrenia. Outra conclusão importante da pesquisa é que a mediunidade se constitui numa vivência diferente do transtorno de personalidade múltipla.
Psicografia
Em 2008, em parceria com o Centro de Espiritualidade e da Mente, da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, os pesquisadores do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade da UFJF captaram imagens do cérebro de médiuns em dois momentos distintos: durante o ato de psicografar (capacidade atribuída a certos médiuns de escrever mensagens ditadas por espíritos) e ao escrever um texto de própria autoria, fora do estado mediúnico.“O objetivo desse estudo é determinar se a psicografia está associada a alterações específicas na atividade cerebral e buscar compreender melhor a experiência mediúnica, identificando o padrão de ativação das diversas áreas cerebrais durante a psicografia”, explica Alexander. Foram avaliados 10 médiuns sem transtornos mentais e com experiência em psicografia. Eles foram submetidos a uma tomografia. Os resultados da pesquisa serão publicados nos próximos meses.
adaptado de : http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-saude/2010/06/21/interna_ciencia_saude,198624/index.shtml