Abri o jornal, não pra saber sobre a guerra contra o tráfico de drogas no Rio, mas para procurar propaganda de colchões. Você sabia que pode comprar um colchão excelente em São Paulo, com frete grátis, pela metade do preço do mesmo colchão no Rio? Vi essa propaganda na revista do Globo semanas atrás e fui procurar de novo.
Mas não é disso que eu quero falar. Com eu tinha visto a propaganda do colchão em uma revista do Globo fui olhar o caderno Zona Sul, que era revista do dia no jornal. E nem precisei folhear para me deparar com a grande bobagem que era a reportagem da capa: 'Palavra Feminina'.
A reboque da pouco-séria mini-série que a Globo está transmitindo, a revista perguntava a várias mulheres da Zona Sul, o que elas queriam.
Não é só que os depoimentos fossem banais, do tipo que Miss daria em concurso, como:
'Dinheiro no bolso e bumbum sem celulite' ou 'Equilíbrio espiritual, mental e físico' ou ainda, 'Independência financeira, sucesso profissional e amor'. É que toda essa idéia por trás de 'o que é que as mulheres querem, é furada.
Explico o porquê. Primeiro, o que as mulheres realmente querem, é que ninguém saiba o que elas querem.
Esqueçam os poderes sobrenaturais do Mel Gibson, ou o talento literário do Jack Nicholson, esqueçam também, por favor, o seriado da Globo. Os estudos de psicologia evolutiva tem mostrado que o a confusão é a principal estratégia das mulheres para avaliar a dedicação dos homens. Quanto mais ele tentar, e quanto menos conseguir, e quanto mais ele continuar tentando, mais interessante ele se torna.
Autores como Robin Baker mostraram que até mesmo a variedade da morfologia feminina, que é o nome científico para o formato do clitóris, é importante para gerar essa confusão nos homens. Isso porque o tamanho e a forma do clitóris, associado a outros fatores, está relacionado com a capacidade das mulheres de alcançarem o orgasmo. Os especialistas classificam o orgasmo feminino em 3 tipos. Aquele obtido sem nenhuma estimulação (os orgasmos noturnos que acontecem, por exemplo, nos sonhos), com estimulação direta do clitóris (que elas alcançam com a masturbação) e o orgasmo vaginal (alcançado apenas com a penetração do pênis). Um pequeno percentual de mulheres, em torno de 5%, não só consegue alcançar o orgasmo em qualquer uma das 3 modalidades, como é capaz de alcançar sempre. Até múltiplas vezes. Outros pequenos percentual, outros 5%, coitadas, nunca, de forma alguma, alcançam o orgasmo. E existe todo o tipo de percentuais entre umas e outras.
Essas distribuição de tipos e formas, entre afortunadas e pobres coitadas, tem apenas um objetivo: impedir que um homem consiga determinar (e aprender), de forma genérica, o que deixa uma mulher satisfeita. Assim, cada mulher que um homem encontra deveria ser um novo desafio para ele. Pode até ser que ele acerte de cara usando o que já aprendeu, mas se quiser mesmo ter sucesso, vai ter que começar do zero aprendendo como fazer 'aquela' mulher alcançar o orgasmo. E essa dedicação (ou não) é um fator importantíssimo para diferenciá-lo de outros homens.
Não é só que as mulheres não sabem o que querem. Elas foram preparadas pela seleção natural para não saberem.
Acabei me estendendo na primeira razão, mas quem não gosta de falar de clitóris e orgasmo feminino?
A segunda razão é mais simples. E talvez por isso, mais poderosa. A verdade é que, tantas vezes, ninguém sabe o que quer.
Isso ficou claro na interessantíssima palestra de Malcolm Gladwell no TED: 'O que podemos aprender com o molho de tomate?'
Ele fala sobre um estatístico, especialista em pesquisas de opinião, que trabalhou para (e revolucionou) a indústria de alimentos nos EUA. A diferença do cara foi que ele resolveu fazer pesquisas de opinião SEM PERGUNTAR para as pessoas qual era a opinião delas. Ele pediu para um monte de cozinheiros prepararem molho de tomate de todas as maneiras que pudessem imaginar, e descobriu por experimentação, que 1/3 dos entrevistado preferiam o molho extra-suculento. Antes, perguntavam as pessoas: 'O que você espera em um molho de tomate?' e a resposta era sempre boba, como:
'Queremos amor, no amplo sentido da palavra'
Eis o que Malcolm disse:
'O pressuposto número um da indústria de alimentos, era que o caminho para descobrir o que as pessoas queriam comer - o que as faria felizes - era perguntar-lhes. E durante anos e anos e anos e anos (...) colocaram todos vocês sentados e perguntavam: 'O que você quer em um molho de tomate? Diga-nos o que você quer em um molho de tomate?' E (...) em 20, 30 anos, ninguém, nunca, disse que queria extra-grosso. Ainda que, pelas estatística, pelo menos um terço deles, no fundo de seus corações, realmente quisesse um molho extra-suculento. As pessoas não sabem o que querem! 'A mente não sabe o que a língua quer.' É um mistério! E um passo extremamente importante na compreensão nossos próprios desejos e gostos é perceber que nem sempre podemos explicar o que, no fundo, realmente queremos.'
Aprender isso não é, infelizmente, o caminho para compreender o que querem as mulheres. Mas sim o caminho para uma compreensão maior, a de que dificilmente poderemos satisfazer os outros, simplesmente, porque eles não sabem o que os satisfaz.
De alguma forma, acho que isso pode salvar nossas vidas, mais do que ficar em casa com medo de arrastão com hora marcada.
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A reboque da pouco-séria mini-série que a Globo está transmitindo, a revista perguntava a várias mulheres da Zona Sul, o que elas queriam.
Não é só que os depoimentos fossem banais, do tipo que Miss daria em concurso, como:
'Dinheiro no bolso e bumbum sem celulite' ou 'Equilíbrio espiritual, mental e físico' ou ainda, 'Independência financeira, sucesso profissional e amor'. É que toda essa idéia por trás de 'o que é que as mulheres querem, é furada.
Explico o porquê. Primeiro, o que as mulheres realmente querem, é que ninguém saiba o que elas querem.
Esqueçam os poderes sobrenaturais do Mel Gibson, ou o talento literário do Jack Nicholson, esqueçam também, por favor, o seriado da Globo. Os estudos de psicologia evolutiva tem mostrado que o a confusão é a principal estratégia das mulheres para avaliar a dedicação dos homens. Quanto mais ele tentar, e quanto menos conseguir, e quanto mais ele continuar tentando, mais interessante ele se torna.
Autores como Robin Baker mostraram que até mesmo a variedade da morfologia feminina, que é o nome científico para o formato do clitóris, é importante para gerar essa confusão nos homens. Isso porque o tamanho e a forma do clitóris, associado a outros fatores, está relacionado com a capacidade das mulheres de alcançarem o orgasmo. Os especialistas classificam o orgasmo feminino em 3 tipos. Aquele obtido sem nenhuma estimulação (os orgasmos noturnos que acontecem, por exemplo, nos sonhos), com estimulação direta do clitóris (que elas alcançam com a masturbação) e o orgasmo vaginal (alcançado apenas com a penetração do pênis). Um pequeno percentual de mulheres, em torno de 5%, não só consegue alcançar o orgasmo em qualquer uma das 3 modalidades, como é capaz de alcançar sempre. Até múltiplas vezes. Outros pequenos percentual, outros 5%, coitadas, nunca, de forma alguma, alcançam o orgasmo. E existe todo o tipo de percentuais entre umas e outras.
Essas distribuição de tipos e formas, entre afortunadas e pobres coitadas, tem apenas um objetivo: impedir que um homem consiga determinar (e aprender), de forma genérica, o que deixa uma mulher satisfeita. Assim, cada mulher que um homem encontra deveria ser um novo desafio para ele. Pode até ser que ele acerte de cara usando o que já aprendeu, mas se quiser mesmo ter sucesso, vai ter que começar do zero aprendendo como fazer 'aquela' mulher alcançar o orgasmo. E essa dedicação (ou não) é um fator importantíssimo para diferenciá-lo de outros homens.
Não é só que as mulheres não sabem o que querem. Elas foram preparadas pela seleção natural para não saberem.
Acabei me estendendo na primeira razão, mas quem não gosta de falar de clitóris e orgasmo feminino?
A segunda razão é mais simples. E talvez por isso, mais poderosa. A verdade é que, tantas vezes, ninguém sabe o que quer.
Isso ficou claro na interessantíssima palestra de Malcolm Gladwell no TED: 'O que podemos aprender com o molho de tomate?'
Ele fala sobre um estatístico, especialista em pesquisas de opinião, que trabalhou para (e revolucionou) a indústria de alimentos nos EUA. A diferença do cara foi que ele resolveu fazer pesquisas de opinião SEM PERGUNTAR para as pessoas qual era a opinião delas. Ele pediu para um monte de cozinheiros prepararem molho de tomate de todas as maneiras que pudessem imaginar, e descobriu por experimentação, que 1/3 dos entrevistado preferiam o molho extra-suculento. Antes, perguntavam as pessoas: 'O que você espera em um molho de tomate?' e a resposta era sempre boba, como:
'Queremos amor, no amplo sentido da palavra'
Eis o que Malcolm disse:
'O pressuposto número um da indústria de alimentos, era que o caminho para descobrir o que as pessoas queriam comer - o que as faria felizes - era perguntar-lhes. E durante anos e anos e anos e anos (...) colocaram todos vocês sentados e perguntavam: 'O que você quer em um molho de tomate? Diga-nos o que você quer em um molho de tomate?' E (...) em 20, 30 anos, ninguém, nunca, disse que queria extra-grosso. Ainda que, pelas estatística, pelo menos um terço deles, no fundo de seus corações, realmente quisesse um molho extra-suculento. As pessoas não sabem o que querem! 'A mente não sabe o que a língua quer.' É um mistério! E um passo extremamente importante na compreensão nossos próprios desejos e gostos é perceber que nem sempre podemos explicar o que, no fundo, realmente queremos.'
Aprender isso não é, infelizmente, o caminho para compreender o que querem as mulheres. Mas sim o caminho para uma compreensão maior, a de que dificilmente poderemos satisfazer os outros, simplesmente, porque eles não sabem o que os satisfaz.
De alguma forma, acho que isso pode salvar nossas vidas, mais do que ficar em casa com medo de arrastão com hora marcada.
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