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24 de nov. de 2010

câncer do colo do útero: evolução do papiloma ,tratamento e prognóstico

Estudo avalia evolução de lesão que desencadeia câncer do colo do útero



Problema regrediu em 74% das 50 mulheres acompanhadas ao longo de um ano


Ainfecção genital por papilomavírus humano (HPV) é uma doença sexualmente transmissível que acomete o trato genital inferior tanto da mulher como do homem, indistintamente. É um agente que induz as lesões precursoras e é o principal responsável pelo câncer do colo uterino. O tratamento de indicação para as lesões precursoras deste câncer é a sua excisão mediante uma pequena cirurgia. Outra possibilidade é a destruição da lesão através de congelamento (criocirurgia), cauterização ou vaporização por laser. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer do colo do útero é uma importante causa de morte por câncer em mulheres no Brasil, registrando cerca de 20 mil casos novos por ano.

A transmissão do vírus é feita sobretudo pelo contato genital com uma pessoa infectada, mas não se descarta que a transmissão possa ocorrer pelo contato com objetos contaminados, como toalhas, roupas íntimas, vasos sanitários e banheira.


Uma pesquisa de doutorado recém-defendida na Faculdade de Ciências Médicas(FCM), orientada pelo ginecologista do hospital Luiz Carlos Zeferino, docente da FCM, estudou a evolução de uma lesão precursora do câncer do colo do útero, ligada ao HPV, especificamente a Neoplasia Intraepitelial Cervical conhecida como NIC 2. Cinquenta pacientes portadoras desta lesão foram acompanhadas por 12 meses no Hospital da Mulher “Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti”, o Caism da Unicamp. O dado positivo do estudo foi que 74% dessas mulheres com NIC 2 tiveram regressão espontânea da lesão, isso sem necessidade de tratamento cirúrgico.


De acordo com a sua autora, a farmacêutica bioquímica Michelle Garcia Discacciati de Carvalho, esta é uma boa notícia, já que o tratamento pode trazer algumas complicações, entre as quais complicações obstétricas como parto antes do término da gestação e recém-nascido prematuro.


A casuística em questão foi composta por pacientes com idade média de 26 anos e com lesão de baixo grau. “Estas lesões aparecem em mulheres mais novas e, portanto, é fundamental que se preocupe com o futuro obstétrico delas”, expõe a pesquisadora. “A melhor sistemática para detectar estas lesões consiste na realização do exame de Papanicolaou, que pode ser feito em clínicas médicas, nos Postos deSaúde ou nas Unidades Básicas de Saúde”.


A evolução de uma lesão como a estudada, explica a pesquisadora, é capaz de atingir quatro estágios: graus 1, 2 e 3, vindo depois o câncer. Uma lesão precursora, no entanto, não se trata propriamente de um câncer, mas carrega potencial para desencadeá-lo.


Os HPV podem ser divididos em aqueles que são de alto risco oncogênico, por estarem associados ao câncer, como por exemplo as espécies 16 e a 18; e os de baixo risco oncogênico, como as espécies 6 e a 11 que estão associadas às lesões clínicas representadas pelas não menos incômodas verrugas genitais, chamadas condilomas ou “cristas-de-galo”.


Conforme Carvalho, ela acabou optando por estudar especificamente a evolução da NIC 2 por ser uma lesão precursora do câncer do colo uterino que tem sido sistematicamente tratada. Além disso, Carvalho estudou alguns testes laboratoriais para saber se eles seriam capazes de prever a evolução: se a lesão vai regredir ou progredir para uma lesão mais grave.


O teste analisou o DNA do HPV (molécula que contém o código genético), sabidamente relacionado com esta evolução. No caso particular da NIC 2, este teste laboratorial identificou um grupo de lesões com maior probabilidade de progredir para NIC 3 ou para o câncer. Outro teste foi a análise do RNA-mensageiro de genes do HPV (genes que conferem malignidade a uma célula), contudo este estudo não foi conclusivo quanto ao papel clínico deste teste.


Casuística


A priori, a pesquisadora procurou atingir a maior casuística possível para o estudo, enviando cartas para mais de quatro mil mulheres atendidas nas Unidades Básicas de Saúde de Campinas e região com exame de Papanicolaou alterado. Destas mulheres, menos que a metade (cerca de 1.500) compareceu ao Caism e foi avaliada no Ambulatório de Patologia do Trato Genital Inferior, por meio de consulta ginecológica. A seguir, elas passaram por exames mais acurados de biópsia e colposcopia, além de citologia oncótica novamente. 


Ao final, apenas 50 pacientes atenderam aos critérios de inclusão da pesquisa, sendo rigorosamente acompanhadas por 12 meses pelo seu consentimento. Alguns desses critérios envolveram o fato de não terem nenhum tipo de doença que comprometesse o seu sistema imune, não estarem grávidas ou não pretenderem engravidar no período de um ano. De acordo com o apurado por Carvalho, é interessante ter a garantia de poder seguir de perto as mulheres portadoras desta doença para que não tenham nenhum prejuízo no caso de a lesão progredir.


O estudo foi desenvolvido entre os anos de 2005 e 2008 e faz parte de uma linha de pesquisa na Unicamp que já gerou duas publicações internacionais sobre este tema. A farmacêutica informa que os testes do DNA do HPV foram efetuados no Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, ao passo que no Laboratório Salomão e Zoppi realizou-se a análise dos RNA-mensageiros. No Caism, ocorreu atendimento e seguimento das mulheres, além da extração do material genético para os testes laboratoriais.


Carvalho comenta que a rotina no país é que os médicos optem por tratar imediatamente esta lesão, pois o protocolo recomenda a excisão ou a cauterização. Atualmente, o seguimento com exames periódicos, para averiguar se a doença não está progredindo, é aconselhado exclusivamente para mulheres adolescentes e muito jovens. Contudo, outro fato inédito que vem juntar-se a esse, além da constatação de que 74% das pacientes do estudo com NIC 2 tiveram regressão espontânea da lesão, foi que a investigação de Carvalho mostrou que a regressão ocorre também em mulheres numa faixa etária mais avançada.


Para Zeferino, orientador da pesquisa, a importância deste trabalho foi que ele conseguiu identificar um tipo de lesão precursora do câncer do colo do útero muito frequente em mulheres jovens e que pode ser seguido com segurança sem tratamento, dando chances de que ele regrida de forma espontânea. Neste particular, a investigação, reforça o ginecologista, revelou que a taxa da regressão e cura depende de algumas características da lesão, mas que podem chegar a 74% em um ano.


Ao evitar o tratamento desta lesão, explana Zeferino, são ainda evitadas intervenções no colo útero, o qual desempenha uma função importantíssima na manutenção da gravidez até o momento mais apropriado para que aconteça o nascimento. Intervenções no colo do útero tornam-o mais frágil, levando-o a dilatar antes do final da gravidez e, como consequência, acabam gerando o recém-nascido prematuro.


    HPV: mitos e verdades


A pesquisadora defende que é preciso se ver livre do mito de que, tendo o HPV, a pessoa terá automaticamente câncer, pois a minoria das pessoas que adquire a infecção por HPV apresentará alguma manifestação clínica e poderá desenvolver lesões precursoras, porém um contingente grande destas lesões não progredirá para câncer.


Além disso, entre a transmissão do vírus e o desenvolvimento do câncer decorrem em média 15 a 20 anos. Nesse processo, a maior parte dessas infecções é controlada pelo próprio organismo – o sistema imune as combate e a infecção regride espontaneamente. Outra coisa: não existe droga de indicação para tratar o HPV.


O exame preventivo de Papanicolaou identifica mulheres que podem ter uma lesão precursora, mas não detecta a presença do vírus, relata a autora da pesquisa. Somente a infecção que persistir poderá resultar numa lesão precursora e, ainda assim, dependendo de fatores individuais do hospedeiro, como a resposta imune ou a virulência e a espécie que está envolvida.

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